Existem fatos que acontecem hoje em dia que, sempre que ocorrem, me remetem a momentos gostosos de minha infância, trazendo-me recordações agradáveis que fizeram parte de um passado distante, em relação ao tempo, porém bem próximo, tão vivo ainda está em minha memória.
Um deles foi um vento gostoso de chuva que soprou aqui em Bauru , que fez as folhas das árvores dançarem e, ao mesmo tempo cantarem, raspando uma nas outras. Sempre que ouço esse barulho gostoso do vento, durante a noite, recordo-me do quintal da casa do meu avô e das artimanhas de um bando de “anjinhos” que ali viviam, entre eles, eu. No quintal havia, dentre diversas árvores, uma mangueira frondosa, cujas raízes serviam como garagem para os pequenos carrinhos puxados por cordão, que esses anjinhos dirigiam na época, e, cuja sombra servia de palco para disputados jogos de futebol, bola de gude e triângulo. Ela era enorme ( pelo menos aos nossos olhos, cravados em corpos ainda tão pequeninos e franzinos). Também servia de palco para uma outra brincadeira divertida, em noites de vento de chuva: catar manga que caía e se livrar daquelas que despencavam lá de cima. Era aquela alegria... ouvíamos a todo instante o barulho de uma manga se “estatalando” no chão e, não poucas vezes, o zunir de uma manga que descia em velocidade, raspando nossa orelha. Era aquela risadaria. No final, era balde de manga para todo lado, satisfação e brilho nos olhos dos pequeninos. O interessante é que, apesar de todos esses riscos, de uma “mangada” na cabeça, não lembro de ter acontecido um só fato desse gênero com qualquer um de nós. A lembrança que tenho desses momentos é de muita alegria e diversão. Às vezes fico imaginando no quanto protegemos demais nossos filhos hoje em dia, a ponto de não permitirmos que eles vivam esses momentos preciosos que levariam por toda vida, sempre com uma recordação agradável. Pois creio que, se aqui em casa tivese uma mangueira como aquela, não deixaria que as crianças fossem para lá em dias de vento e chuva. Já meu avô era um homem muito sábio , pois apesar de haver o risco de uma mangada na cabeça de um de nós, ele sabia que, entre “perdas e ganhos”, nesse caso o ganho era bem maior. Pois se caísse uma manga na cabeça, o máximo do acontecimento seria um choro e um “galo”no crânio, e assim permitia que fôssemos lá, creio que ele sabia o quanto aquilo traria satisfação não só momentânea, mas por toda a vida, além de que, com isso, estávamos aprendendo sobre os riscos que determinadas escolhas trazem à vida.
Outro fato que me recordou o passado, diz respeito ao pequeno trecho da poesia Meus Oito Anos, de Casimiro de Abreu, que li esses dias no livro escolar do Luquinhas: “Oh! que saudades que tenho . Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais !”. À medida que ia lendo o pequeno trecho da poesia, em minha mente foi surgindo o rosto do meu avô, declamando-a, com os olhos brilhantes devido a presença de lágrimas retidas. Se naquele momento, eu tivesse fechado os olhos, sei que chegaria a ouvir a doce, serena e ao mesmo tempo forte voz do meu avô. Homem sábio que, por inúmeras vezes ficava rodeado dos netos jogando bexiga ( balão) um para o outro na grande sala da casa, algumas vezes quebrando os jarros de planta de minha avó; contando histórias engraçadas, e, declamando poesias, como essa que acabei de comentar. Uma outra poesia que sempre que ouço, tenho essa sensação maravilhosa do rosto de meu avô tão próximo de mim é A Boneca , de Olavo Bilac. Nós ficávamos todos boquiabertos e admirados de tamanha memória, meu avô declamava-as na íntegra, sem um papel na mão. Isso sem falar nos brinquedos que ele inventava, como carrinho de mão de madeira, balanços feitos em árvores, caleidoscópio que ele mesmo fazia...
Na verdade, a maior parte das recordações maravilhosas de minha infância trazem consigo a presença de meu avô. Homem culto, amoroso, honesto, sábio, que, apesar da idade, depois de ter criado muito bem todos os filhos, e está aposentado,ainda teve de sobra carinho, paciência e amor, para criar mais sete netos, órfãos em tenra idade, que, apesar de terem perdido os pais, ainda tão pequenos, puderam crescer alegres, e felizes, sendo alvo do amor, carinho e cuidados de um avô e de uma avó altruístas. Dentre esses pequeninos estava eu.
Um deles foi um vento gostoso de chuva que soprou aqui em Bauru , que fez as folhas das árvores dançarem e, ao mesmo tempo cantarem, raspando uma nas outras. Sempre que ouço esse barulho gostoso do vento, durante a noite, recordo-me do quintal da casa do meu avô e das artimanhas de um bando de “anjinhos” que ali viviam, entre eles, eu. No quintal havia, dentre diversas árvores, uma mangueira frondosa, cujas raízes serviam como garagem para os pequenos carrinhos puxados por cordão, que esses anjinhos dirigiam na época, e, cuja sombra servia de palco para disputados jogos de futebol, bola de gude e triângulo. Ela era enorme ( pelo menos aos nossos olhos, cravados em corpos ainda tão pequeninos e franzinos). Também servia de palco para uma outra brincadeira divertida, em noites de vento de chuva: catar manga que caía e se livrar daquelas que despencavam lá de cima. Era aquela alegria... ouvíamos a todo instante o barulho de uma manga se “estatalando” no chão e, não poucas vezes, o zunir de uma manga que descia em velocidade, raspando nossa orelha. Era aquela risadaria. No final, era balde de manga para todo lado, satisfação e brilho nos olhos dos pequeninos. O interessante é que, apesar de todos esses riscos, de uma “mangada” na cabeça, não lembro de ter acontecido um só fato desse gênero com qualquer um de nós. A lembrança que tenho desses momentos é de muita alegria e diversão. Às vezes fico imaginando no quanto protegemos demais nossos filhos hoje em dia, a ponto de não permitirmos que eles vivam esses momentos preciosos que levariam por toda vida, sempre com uma recordação agradável. Pois creio que, se aqui em casa tivese uma mangueira como aquela, não deixaria que as crianças fossem para lá em dias de vento e chuva. Já meu avô era um homem muito sábio , pois apesar de haver o risco de uma mangada na cabeça de um de nós, ele sabia que, entre “perdas e ganhos”, nesse caso o ganho era bem maior. Pois se caísse uma manga na cabeça, o máximo do acontecimento seria um choro e um “galo”no crânio, e assim permitia que fôssemos lá, creio que ele sabia o quanto aquilo traria satisfação não só momentânea, mas por toda a vida, além de que, com isso, estávamos aprendendo sobre os riscos que determinadas escolhas trazem à vida.
Outro fato que me recordou o passado, diz respeito ao pequeno trecho da poesia Meus Oito Anos, de Casimiro de Abreu, que li esses dias no livro escolar do Luquinhas: “Oh! que saudades que tenho . Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais !”. À medida que ia lendo o pequeno trecho da poesia, em minha mente foi surgindo o rosto do meu avô, declamando-a, com os olhos brilhantes devido a presença de lágrimas retidas. Se naquele momento, eu tivesse fechado os olhos, sei que chegaria a ouvir a doce, serena e ao mesmo tempo forte voz do meu avô. Homem sábio que, por inúmeras vezes ficava rodeado dos netos jogando bexiga ( balão) um para o outro na grande sala da casa, algumas vezes quebrando os jarros de planta de minha avó; contando histórias engraçadas, e, declamando poesias, como essa que acabei de comentar. Uma outra poesia que sempre que ouço, tenho essa sensação maravilhosa do rosto de meu avô tão próximo de mim é A Boneca , de Olavo Bilac. Nós ficávamos todos boquiabertos e admirados de tamanha memória, meu avô declamava-as na íntegra, sem um papel na mão. Isso sem falar nos brinquedos que ele inventava, como carrinho de mão de madeira, balanços feitos em árvores, caleidoscópio que ele mesmo fazia...
Na verdade, a maior parte das recordações maravilhosas de minha infância trazem consigo a presença de meu avô. Homem culto, amoroso, honesto, sábio, que, apesar da idade, depois de ter criado muito bem todos os filhos, e está aposentado,ainda teve de sobra carinho, paciência e amor, para criar mais sete netos, órfãos em tenra idade, que, apesar de terem perdido os pais, ainda tão pequenos, puderam crescer alegres, e felizes, sendo alvo do amor, carinho e cuidados de um avô e de uma avó altruístas. Dentre esses pequeninos estava eu.
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